Entrevista exclusiva com o fundador da Vechain, Sunny Lu: Velhos soldados nunca morrem, a esperança nunca se apaga

Quando um veterano de oito anos ainda na linha de frente escolhe fazer o que é difícil, mas correto.

Escrito por: ChandlerZ, Foresight News

O canal ETF, as diretrizes regulatórias e o capital institucional estão levando a indústria cripto de um ciclo especulativo dominado por investidores de varejo para um ciclo institucional estruturado. Nesse processo, VeChain está transformando o antigo lema “Mass Adoption” de conceito em sistema e produto: por um lado, com a série de upgrades “Renaissance” para reconstruir governança e incentivos; por outro, com o Stargate, conectando usuários comuns à camada de consenso e construindo, junto a instituições reguladas, a base para capital e gestão de risco. Esse caminho não busca o hype, mas mira na paciência e nos juros compostos.

A avaliação de Sunny Lu é direta: a longo prazo, fazer o que é difícil e correto é realmente o “Right thing to do” do setor.

Do ciclo de varejo ao ciclo institucional

Nos últimos dois anos, o caminho regulatório ficou mais claro e as instituições entraram de forma mais sistemática, mudando a composição dos participantes e a estrutura de liquidez do mercado cripto. O ciclo emocional liderado por investidores de varejo está sendo alongado e suavizado pelo comportamento de alocação institucional, com uma transição clara da narrativa para a utilidade e do mercado de varejo para o institucional.

O “Markets in Crypto-Assets Regulation” (MiCA) da União Europeia entrou em vigor totalmente em 30 de dezembro de 2024, e os EUA, sob o governo Trump 2.0, também apoiam firmemente os criptoativos, afirmando que garantirão que os EUA se tornem a “capital dos criptoativos”.

Este ano, a Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA, sob nova presidência, lançou o “Project Crypto”, propondo pela primeira vez modernizar o mercado financeiro sob um quadro que cruza ativos digitais e inteligência artificial. O núcleo do plano é colocar as regras de valores mobiliários on-chain, ou seja, operar o mercado com mecanismos transparentes e verificáveis na blockchain. O plano inclui apoiar a inovação de plataformas do tipo Super App, permitindo negociação, empréstimo e staking sob um quadro regulatório unificado; flexibilizar regras de custódia para que investidores e corretores possam escolher livremente diferentes soluções de custódia, entre outras prioridades.

Sinais regulatórios da Europa e EUA, junto com ferramentas de mercado de capitais (como o canal ETF), reduziram a barreira de entrada para instituições tradicionais. “O capital institucional vai claramente alongar o ritmo do bull market, com muito mais certeza”, disse Sunny Lu ao Foresight News. “Esse será o pano de fundo da próxima fase.”

Ao mesmo tempo, o volume de capital, experiência em governança e exigências de compliance das instituições também vão moldar os limites de design dos ecossistemas de blockchains públicas. Em outras palavras, a certeza da próxima fase vem da participação institucionalizada e da utilidade sustentável, não da “velocidade da narrativa”.

No formato de entrada, o setor também começa a preferir experiências do tipo Super App. Para Sunny Lu, usar interações estilo Web2 para cobrir funções Web3 minimiza dores como gestão de chaves e saltos entre aplicativos. A carteira deixa de ser apenas um container de ativos e passa a ser uma porta de entrada para serviços integrados; esse é o ponto-chave para a experiência do usuário comum no mundo cripto.

Sunny Lu enfatiza que a carteira e a gestão de chaves ainda são o maior obstáculo para o uso em massa, sendo necessário reduzir a barreira com métodos de engenharia, caso contrário, “Mass Adoption” não passa de discurso.

Trilha independente e o framework de execução do “Mass Adoption”

Em oito anos de existência, a base da VeChain nunca mudou: utilidade no mundo real (real‑world utility) + adoção em massa (mass adoption). Em uma indústria cripto de modas passageiras, essa escolha é tanto “contra a natureza humana” quanto “anticíclica”.

Sunny Lu resume esse longo prazo como “Pick right, choose long, iterate extremely fast.”, ou seja: escolher a direção certa, manter o foco no longo prazo e iterar produtos rápido o suficiente para sustentar essa visão:

• Pick right: escolher a direção certa — estabelecer aplicações reais para o público e empresas como base;
• Choose long: adotar uma mentalidade de longo prazo para lidar com o tempo de compliance, governança e construção do ecossistema;
• Iterate extremely fast: iterar e entregar rapidamente em produtos e mecanismos.

Nos últimos dois anos, a VeChain dividiu sua estratégia em três caminhos paralelos:

• Descentralização de protocolo e governança (upgrades da série “Renaissance”);
• Crescimento de aplicações e usuários (produtos de entrada como Stargate);
• Compliance e colaboração institucional (divisão institucionalizada com custodians, market makers, asset managers, etc.).

Aqui, a palavra-chave é preparar os recursos primeiro. Em agosto de 2025, a VeChain Foundation anunciou parceria com a custodiante de ativos digitais BitGo, a market maker Keyrock e a asset manager Franklin Templeton. Essa colaboração vai injetar capacidades essenciais como custódia, gestão de liquidez e instrumentos financeiros tokenizados no ecossistema VeChain, acelerando sua expansão no mercado institucional.

A VeChain Foundation afirma que a parceria com as três instituições ocorre no momento em que o upgrade “Renaissance” está sendo implementado, combinado com a otimização do modelo econômico Hayabusa, garantindo segurança e descentralização da rede, além de fornecer um ambiente institucional compatível com o regulamento MiCA da União Europeia.

Sunny Lu também destaca que a colaboração institucional não só oferece capital, custódia e infraestrutura financeira, mas também traz práticas de compliance e gestão de risco para a governança da blockchain pública. Assim, as instituições não são apenas compradoras, mas construtoras do ecossistema, diferenciando-se dos caminhos de narrativa financeira de curto prazo.

Transformando “participação para todos” em realidade com design institucionalizado

O desenvolvimento da VeChain pode ser dividido em três fases claras, cada uma marcada por um whitepaper como marco.

Em 2017, a VeChain lançou seu primeiro whitepaper, focando na construção de infraestrutura. Naquela época, blockchains públicas ainda eram experimentais e conceituais, e o objetivo da VeChain era trazer a lógica de negócios do mundo real para a blockchain, criando a base para aplicações empresariais. Em 2019, a VeChain começou a avançar para a implementação prática, com foco em cenários empresariais. Parcerias com empresas como Walmart China e BYD exploraram comercialmente áreas como segurança alimentar, transparência da cadeia de suprimentos e gestão de pegada de carbono.

A segunda fase foi marcada pelo whitepaper “Web3 for Better”, estabelecendo o desenvolvimento sustentável como narrativa central. O projeto lançou o VeBetterDAO, incentivando usuários a adotar comportamentos mais ecológicos e responsáveis no dia a dia. Até agora, o ecossistema atraiu cerca de 2,7 milhões de usuários e mais de 40 aplicações, preparando a base de usuários e aplicações para a adoção em massa futura.

Agora, a VeChain entra em um novo ciclo, a fase de upgrade “Renaissance”. Esta etapa, por meio da reconstrução de governança e incentivos, busca criar uma rede colaborativa real entre empresas, desenvolvedores e usuários comuns na mesma blockchain. O primeiro marco é o lançamento da plataforma Stargate em 1º de julho, marcando a virada da VeChain de uma blockchain empresarial para um ecossistema público com participação popular.

“Renaissance”: dupla reconstrução de governança e incentivos

Sunny Lu disse ao Foresight News que “Renaissance” não é uma medida temporária, mas uma série de upgrades acumulados ao longo dos anos, lançados durante a janela regulatória, com dois objetivos:

• Descentralização mais profunda: dar espaço de participação operacional para nós, comunidade e holders comuns;
• Preparação para escala: garantir que a governança e os incentivos do protocolo possam suportar maior densidade de usuários e ativos.

O plano é dividido em fases: a primeira foi concluída em junho, a segunda está prevista para dezembro, e a terceira deve ocorrer entre julho e setembro do ano seguinte. O design está alinhado com os requisitos de compliance do MiCA europeu, e em março de 2025, a VeChain já havia concluído a integração regulatória dos dois tokens nos 27 países da UE, estabelecendo a base institucional para ser um “player oficial”.

A principal mudança no mecanismo de incentivos é vincular mais estreitamente as recompensas à contribuição para a governança, mudando de uma distribuição passiva (holding gera rendimento) para uma distribuição baseada em contribuição (“participar da construção e manutenção descentralizada, como rodar nós/delegar, gera recompensa”). A VeChain acredita que isso se encaixa melhor no ambiente regulatório e inibe comportamentos como “carona” e “mineração vazia”.

Além disso, o limite e a faixa de capacidade dos validadores serão ampliados. Cada nó poderá fazer staking de 25 milhões a 600 milhões de VET, introduzindo competição e incentivando quem quiser mais retorno a contribuir mais, compatibilizando incentivos com liquidez de mercado.

Stargate: escondendo a complexidade “onde não se vê”

O Stargate, lançado em julho, é definido como “ferramenta de entrada importante para a operação do protocolo”. O design usa NFT como “comprovante de interação”:

• O usuário faz staking de VET em um contrato (auditado e seguro) e recebe um NFT cunhado;
• Com o NFT, o usuário pode escolher/trocar o validador que deseja apoiar on-chain, participando diretamente da manutenção do consenso;
• Recompensas diretas: o protocolo distribui automaticamente as recompensas de bloco entre validador e delegador, “sem intermediários”. A proporção mencionada na entrevista é 30%:70% (nó:delegador).

Sunny Lu afirma que esse design busca resolver três questões ao mesmo tempo:

• Barreira operacional: transformar a complexidade de “rodar nó, gerenciar servidor” em “basta ter o NFT para operar”;
• Segurança dos ativos: o contrato não detém a chave privada, e o usuário não entrega ativos a intermediários;
• Transparência de rendimento: regras no contrato, distribuição automática por bloco.

“O objetivo é uma descentralização em que todos possam participar”, diz Sunny Lu.

Instituições como “base”, middleware como “conexão”, aplicações para alcançar o usuário

O ecossistema VeChain hoje se assemelha a uma cidade bem estruturada. A base é sólida, o meio é o sistema de transporte, e a camada externa é o espaço de aplicações com grande fluxo de pessoas. O sistema opera com uma pilha de três camadas de ferramentas e três tipos de participantes, cada camada com funções diferentes, mas evoluindo em sinergia dentro do mesmo ciclo econômico.

A camada de desenvolvedores é como a fundação da cidade, dando suporte estável para as construções acima. A VeChain, por meio do VeChain Kit, abre bibliotecas, interfaces e ferramentas para que desenvolvedores acessem diretamente as capacidades do protocolo. O objetivo não é criar complexidade, mas reduzir a barreira à inovação, permitindo que empresas e equipes construam aplicações rapidamente sobre a estrutura existente.

No meio está a camada de conexão, que traduz lógica técnica em comportamento do usuário, servindo de ponte entre quem entende de tecnologia e quem entende de negócios. O Stargate nasceu dessa ideia, permitindo que usuários que não querem ou não podem rodar nós participem da rede de forma descentralizada. Com o Stargate, o usuário faz staking, recebe NFT, participa da delegação e da manutenção do consenso, tudo em uma experiência simplificada, com a complexidade escondida. Essa camada é tanto ferramenta quanto porta de entrada.

A camada mais externa é a de experiência para o usuário comum. A VeChain está evoluindo a carteira para um novo formato chamado V World, que pretende ser não só um container de ativos, mas o centro de serviços integrados. Aqui, contas, ferramentas financeiras e marketplace de aplicativos são integrados em uma interface unificada, aproximando-se do modelo “Super App”, com fluidez Web2 para densidade de funções Web3.

Ao redor dessas três camadas, o ecossistema reúne três tipos de participantes. Nós institucionais como BitGo, Keyrock, etc., não são apenas investidores externos, mas construtores de infraestrutura que rodam validadores, oferecem custódia e fazem market making. Eles trazem capital, gestão de risco e experiência em compliance para a governança on-chain, tornando-se a base institucional do ecossistema. Desenvolvedores e empresas usam ferramentas abertas para construir aplicações verticais, de supply chain a ESG, de dados de carbono a sistemas de pontos de varejo. Usuários comuns participam do staking e consenso via NFT e Stargate, fechando o ciclo de valor com suas ações.

Segundo dados divulgados por Sunny Lu, já existem cerca de 46 aplicações no lado do app, cerca de 5 milhões de usuários registrados e entre 36 e 40 milhões de ações on-chain; cerca de 12 mil NFTs já foram cunhados via Stargate, correspondendo a cerca de 6 bilhões de VET em staking. Esses números ainda não são enormes, mas mostram uma estrutura já formada. Instituições fornecem suporte institucional e liquidez, o protocolo garante abertura e segurança, e o usuário entra na rede por meio de design de produto simplificado, formando um ciclo completo da infraestrutura à aplicação.

Esse é o salto que a VeChain quer realizar: de infraestrutura (infra) para aplicação (app), de narrativa (narrative) para utilidade (utility).

Fazendo o que é difícil e correto na “nova certeza”

A lógica de crescimento da VeChain sempre foi “começar pelo fim”. Internamente, a equipe já definiu o final de 2025 como um ponto de convergência crucial:

— No nível técnico, concluir upgrades como Hayabusa, levando a série “Renaissance” a um estado final escalável e compatível com compliance;

— No nível de rede, elevar o staking total para cerca de 30 bilhões de VET, quase dez vezes o volume atual;

— No nível de usuário, alcançar 20 milhões de contas ativas e mais de 100 cenários de aplicação no ecossistema;

— No nível de mercado, atrair mais nós institucionais e exchanges reguladas para a rede, estabelecendo um sistema de liquidez “amigável às instituições”.

Esses números são um roteiro de colaboração entre organização e produto. O upgrade técnico deve suportar maior densidade de ativos e usuários; o avanço regulatório deve colaborar com governança, custódia e market making institucionais; e, no lado do usuário, o design do produto deve esconder a complexidade do Web3 sob a experiência do Web2, permitindo participação descentralizada quase imperceptível.

Para Sunny Lu, o núcleo desse sistema ainda é a regra de execução: Pick right, choose long, iterate extremely fast.

O mercado cripto atual está em um momento de divisão. De um lado, a narrativa do dinheiro rápido, representada por moedas Meme e projetos “shitcoin”, com muita emoção e ciclos curtos; do outro, poucos projetos tentam usar tecnologia, sistema e compliance como base para construir uma camada de ordem mais sólida para o setor. Os primeiros criam hype com especulação, os segundos acumulam certeza com otimização estrutural. A VeChain claramente pertence ao segundo grupo.

Para Sunny Lu, a sustentabilidade das blockchains públicas no futuro não depende mais do ciclo de market cap, tráfego e hype, mas de se o sistema e o produto conseguem fechar o ciclo de participação na governança, distribuição de valor e compliance de segurança. A VeChain opta por fortalecer essa ligação estruturalmente, vinculando direitos de governança e rendimento, permitindo que a contribuição dos participantes se converta diretamente em incentivo, e usando NFTs e ferramentas de entrada para reduzir a barreira operacional, tornando a descentralização acessível ao público. Ao mesmo tempo, a entrada de nós institucionais dá mais força institucional ao sistema. Compliance e gestão de risco deixam de ser exigências externas e passam a ser parte da lógica do protocolo, aproximando a rede dos padrões de segurança e transparência das finanças tradicionais.

Esse caminho não é chamativo, mas é explicativo; não vence pela ousadia, mas pela solidez. No nível técnico, a VeChain minimiza mineração vazia e incentiva retorno por contribuição; no ecossistema, faz das instituições a base da rede, trazendo capital, regras e confiança; no produto, envolve a participação Web3 em experiência Web2, escondendo a complexidade sob a usabilidade; na estratégia, mantém a cautela, não perseguindo narrativas de curto prazo ou oscilações emocionais, mas usando utilidade como métrica de longo prazo.

Em um mercado dominado pela emoção do dinheiro rápido, esse ritmo é diferente. O frenesi das moedas Meme e a especulação tornaram “fazer o certo” menos atraente, enquanto o ritmo da VeChain é como nadar contra a corrente.

Lento, mas com sua própria certeza.

Sunny Lu se descreve como “um veterano ainda na linha de frente”. Em oito anos, ele viu inúmeras narrativas surgirem e caírem, e entendeu onde estão as verdadeiras divisões do setor. Em ciclos de euforia, ele ainda insiste em fazer o que é difícil e correto, aceitando o custo do tempo.

Para ele, o longo prazo não é um slogan. Exige avançar sob múltiplas restrições de mecanismo, tecnologia e compliance; exige manter a paciência para fazer o que importa, fora do barulho do dinheiro rápido. Fazer o que é difícil e correto, aceitando o tempo que isso exige. Esse é o verdadeiro peso do “Mass Adoption”.