Ponto de inflexão em 2025: stablecoins, IA, marca DOT e mecanismo de tesouraria — para onde deve caminhar a Polkadot?

Já estamos na metade de 2025, e a indústria cripto encontra-se num momento crucial de viragem. Seja pela aceleração da regulamentação global das stablecoins, pela profunda integração de ferramentas de IA no desenvolvimento Web3, ou pela evolução da própria arquitetura e mecanismos de governança do ecossistema Polkadot, tudo indica que novas direções estão a formar-se.

Na edição desta mesa-redonda PolkaWorld, três construtores centrais de diferentes perspetivas — Pakman, cofundador da Kylix Finance, Luis, responsável técnico da Gear Foundation, e Mario, cofundador da Harbor Industrial Capital — reúnem-se para um diálogo aprofundado sobre o “ponto de viragem”.

Vão abordar, sob vários ângulos, desde a fratura entre mercado e narrativa, a revolução das ferramentas de desenvolvimento impulsionadas por IA, as oportunidades de transformação trazidas pela regulamentação das stablecoins, a lógica de utilização dos fundos do tesouro e a coordenação com VCs, até à questão de se o DOT precisa de uma rebranding, oferecendo observações de primeira linha e previsões.

Esta é uma análise sistemática do estado intermédio do setor, bem como um debate público sobre “para onde vai o Polkadot a seguir”.

Devido ao comprimento do conteúdo, vamos partilhá-lo em duas partes! Este artigo é a primeira parte, que inclui principalmente:

• VCs, developers e builders: o ponto de viragem intermédio do Web3 sob três perspetivas
• Juntar VCs e comunidade “à mesma mesa”: como a HIC redefine o sentido de participação no ecossistema?
• O tesouro não é uma caixa multibanco: a lógica de utilização dos fundos do tesouro sob a perspetiva de um VC
• Gerar um smart contract com uma frase? Vara usa IA para reinventar a experiência de desenvolvimento Web3
• Lançamento da mainnet da Kylix previsto para setembro — vão também candidatar-se a incentivos do tesouro?

Continue a ler! Fique a par de toda a informação!

Kristen: Olá a todos, bem-vindos a mais uma emissão em direto da PolkaWorld. Eu sou a Kristen, e hoje tenho comigo três convidados: Pakman, Mario e Luis. Olá a todos, sejam bem-vindos!

Escolhi “ponto de viragem” como tema deste episódio porque estamos em junho, um momento crucial de transição do primeiro para o segundo semestre do ano. Acho que, seja pelo ambiente geral do mercado, pelas mais recentes políticas de stablecoins ou pelo próprio ecossistema Polkadot, todos atravessam um ponto de viragem importante.

Por isso, olhar para trás neste momento e preparar-nos para os próximos seis meses é algo muito significativo. Vamos então pedir aos três convidados que se apresentem brevemente. Pakman, queres começar?

Pakman: Claro, penso que a maioria dos amigos da comunidade Polkadot já me conhece, já fiz várias lives com a Kristin, que é uma grande amiga minha.

Atualmente, trabalho principalmente em marketing e construção de comunidade no ecossistema Polkadot, já participei em muitos projetos, como Aventus Network, Mandala Chain, entre outros. Agora também sou cofundador da Kylix Finance.

Kylix é um protocolo DeFi focado em empréstimos multi-chain, com várias características interessantes, como empréstimos auto-reembolsáveis (self-repaying loans), marketplace de liquidez, etc.

O mais especial na Kylix é que não depende de bridges cross-chain — podes pedir e conceder empréstimos diretamente com ativos nativos. Também implementámos pools de liquidez próprios em diferentes blockchains, sobre os quais podemos falar mais adiante.

Criei este projeto com o Gianluigi, que é graduado da Polkadot Blockchain Academy. Já desenvolvemos há mais de um ano, e o projeto está quase pronto — estou muito entusiasmado com o que o segundo semestre nos reserva.

Kristen: Excelente, fico muito contente por estares aqui. Sei que costumas estar muito ocupado, tens a tua própria empresa de media e és fundador da Kylix, por isso é mesmo bom ter-te connosco hoje. Agora, damos as boas-vindas ao Luis!

Luis: Olá a todos! Acho que é a primeira vez que participo num live da PolkaWorld por vídeo, mas já tive algum contacto convosco antes, porque a nossa Vara Network faz parte do núcleo tecnológico do ecossistema Polkadot.

Depois apresento-me melhor. Sou o Luis Ramirez, atualmente responsável pelo desenvolvimento core na Gear Foundation. A Gear é uma organização sem fins lucrativos e a equipa por trás da Vara Network. Vara é uma plataforma poderosa de aplicações Web3 que permite aos developers escrever smart contracts em Rust, possibilitando processamento paralelo em sistemas blockchain.

Kristen: Bem-vindo, Luis! Estamos muito curiosos para saber as novidades da Vara Network, afinal já não apareciam na comunidade há algum tempo. Agora, damos as boas-vindas ao Mario.

Mario: Olá, chamo-me Mario Altenböger, sou cofundador e Chief Information Officer (CIO) da Harbor Industrial Capital. Somos um fundo de venture capital focado no ecossistema Polkadot, atualmente gerimos dois fundos, ambos centrados em projetos Polkadot.

VCs, developers e builders: o ponto de viragem intermédio do Web3 sob três perspetivas

Kristen: Fantástico! Sempre quisemos ouvir a perspetiva dos VCs, é ótimo ter-te connosco hoje. Agora que já temos os três convidados, podem começar a debater o tema de hoje.

Vamos começar com um tema leve: nos últimos tempos, qual foi o “ponto de viragem” mais importante para ti ou para o teu projeto?

Pakman: Não acho que seja uma questão “leve” (risos). Na verdade, a definição de “ponto de viragem” varia de pessoa para pessoa — refere-se à experiência pessoal ou ao desenvolvimento do projeto? Mas de facto, aconteceram muitas mudanças.

Se tomarmos como exemplo a Kylix Finance ou toda a indústria cripto, o maior ponto de viragem foi, sem dúvida, a mudança drástica do ambiente de mercado — especialmente as tendências regulatórias e o papel dominante de Trump no mercado.

Isso fez-me perceber profundamente que, nos momentos-chave, todo o conhecimento que adquiriste sobre mercado, cripto e marketing pode tornar-se inútil. Basta uma pessoa ganhar uma eleição ou lançar um meme coin para, em segundos, elevar o market cap para o nível dos bilhões de dólares — toda a lógica e estratégia de marketing em que confiavas deixa de funcionar.

Para mim, foi uma “viragem cognitiva” chocante: nem sempre “quanto mais sabes, mais vantagem tens” — muitas vezes depende do teu grau de “influência”.

Kristen: Concordo totalmente! Tenho vários amigos que trabalham em marketing há anos e, de repente, sentem que já não sabem o que fazer.

Pakman: Exatamente. E o mais irónico é que muitos de nós, no início, queríamos que Trump ganhasse, mas agora a maioria no mundo cripto está desiludida com ele — porque tornou tudo demasiado “pessoal”.

Claro que isto pode ser apenas uma fase baixa temporária, espero que as coisas regressem ao rumo que todos esperam.

Kristen: Sim, não é só no mundo cripto, há muita gente de outros setores que também não gosta dele. Obrigada pela partilha, é realmente um “ponto de viragem” muito representativo de 2024. E tu, Luis, houve algum ponto de viragem especialmente importante para ti ou para o teu projeto?

Luis: Diria que, no ecossistema da Vara Network, um dos pontos de viragem e marcos mais importantes dos últimos meses foi o nosso avanço na direção da IA.

Antes, fornecíamos muitos templates de smart contracts aos developers, para que pudessem criar várias aplicações Web3 a partir deles. Mas percebemos que, para quem usa o stack tecnológico Polkadot, aprender Rust e Ink é uma barreira elevada, e a eficiência de desenvolvimento não era tão alta.

Por isso, criámos uma nova ferramenta: o AI Generator Tool.

Usámos modelos ajustados e alimentámos a IA com uma grande quantidade de templates de smart contracts da fundação. Agora, basta o developer inserir um prompt e é gerado automaticamente código Rust de smart contract compatível com WebAssembly.

Isto aumentou imenso a eficiência do prototipagem. Mesmo sem saber Rust, já podes começar a construir smart contracts na Vara.

Para nós, foi um salto muito importante, especialmente para developers que querem validar rapidamente ideias — a barreira de entrada baixou muito.

Agora, mesmo sem saber Rust, podes criar smart contracts e começar a interagir com o ecossistema Vara Network. É fantástico. E não só para smart contracts — também fornecemos ferramentas para front-end e até back-end, ajudando developers a atrair utilizadores e construir aplicações completas.

Acho que isto é muito significativo para a comunidade Vara Network, especialmente para os developers. Espero que cada vez mais developers usem esta nova tecnologia.

Kristen: Excelente, é ótimo ouvir esse progresso. Achas que a IA será um ponto de viragem para a indústria cripto?

Luis: Acho que vai acelerar tudo. É verdade, a IA já tem um impacto enorme em vários setores. A nossa equipa usa IA em quase tudo: escrever código, auditar código, criar interfaces front-end, etc.

Por exemplo, temos um bot de IA no nosso grupo Telegram, que ajuda os utilizadores a aprender sobre blockchain, o ecossistema Vara e conceitos técnicos, e ainda podem ganhar recompensas ao interagir.

Por isso, acredito que a IA está a ajudar-nos. Para já, não acho que a IA nos vá substituir — só precisamos de aprender a usá-la corretamente. Claro que ninguém sabe o que o futuro trará, só espero não ver algo como o Skynet (da saga Terminator) tão cedo. Mas, por agora, devemos aproveitar as ferramentas de IA disponíveis e construir juntos o nosso futuro.

Kristen: Vocês estão realmente na vanguarda nesta área, parabéns! E tu, Mario, o que achas?

Mario: Gostava de pegar no que o Pakman disse. No início do ano, todos estávamos muito otimistas.

O desempenho do mercado desde o início do ano, tanto em avaliações como em sentimento geral, até começou bem. Mas continuo otimista. Embora haja muito a melhorar na execução e comunicação de certas políticas, se algumas delas se concretizarem, será um grande impulso não só para a indústria cripto, mas para toda a macroeconomia.

Também é importante notar que ele (referindo-se ao ex-presidente dos EUA) está a pressionar a Fed, e eu pessoalmente acho que a Fed devia voltar a baixar as taxas de juro.

Se olhares para outros bancos centrais, como o BCE, o Banco do Japão, o Banco Nacional Suíço, todos já começaram a cortar taxas — a Suíça até baixou para zero. Por isso, acho que o mercado está como se tivesse reaberto as “comportas” — há um desequilíbrio óbvio: o mercado de ações está em máximos históricos, mas outros ativos de risco, como cripto, venture capital e imobiliário, continuam “reprimidos”. Por isso, acredito que é nestes setores que pode surgir a próxima grande viragem económica.

Para nós, um dos marcos mais importantes deste ano foi a criação do nosso segundo fundo, no início do ano.

E há poucas semanas, conseguimos o nosso primeiro investidor institucional — a Web3 Foundation. Estamos muito satisfeitos por tê-los connosco e por termos concluído este processo com sucesso.

Isto mostra que, dentro do ecossistema Polkadot, não há só colaboração entre projetos — existe um verdadeiro espírito de cooperação e impulso para avançar, e esse ambiente positivo não é por acaso: a Web3 Foundation e a liderança do ecossistema continuam a apoiar e impulsionar este desenvolvimento.

Juntar VCs e comunidade “à mesma mesa”: como a HIC redefine o sentido de participação no ecossistema?

Kristen: Sem dúvida, este é um ponto de viragem macroeconómico que vai afetar toda a indústria cripto e o nosso ecossistema. Falando do conselho consultivo que anunciaram recentemente, podes explicar melhor o que está por trás desta estratégia?

Mario: Sim, já concluímos a criação do fundo e a entrada do primeiro investidor, e agora anunciámos oficialmente os membros do conselho consultivo do Harbor Industrial Capital Fund 2.

O objetivo deste conselho é aproximar-nos ainda mais da comunidade, permitindo que pessoas de diferentes áreas do ecossistema participem de forma representativa.

Por exemplo, convidámos:

• Angie Dalton (da Signum Growth e Topplay) — uma co-investidora;
• Membros ativos na governação da comunidade, como o PakMan — que não só participa ativamente na governação, como representa um projeto importante, a Kylix Finance, que acreditamos poder levar o DeFi no Polkadot a um novo patamar;
• Representantes de outros projetos, como o Michael do projeto Mandala, que também recebemos de braços abertos;
• Representantes da área de governação, como o Tommy (Alice und Bob) — com muitos anos de experiência em governação Polkadot, é uma voz muito forte;
• Também a Xiaojie e tu, da PolkaWorld, estamos muito felizes por vos ter connosco, pois acreditamos que a comunidade chinesa é igualmente importante para todo o ecossistema. Na Harbor Industrial Capital, eu e o Max estamos baseados em Hong Kong, trabalhamos e vivemos lá muito tempo, e ambos falamos mandarim fluentemente, por isso esperamos que vocês nos ajudem a conectar ainda mais com a comunidade chinesa.
• Convidámos também a Paulina (da BBA), porque achamos que trazer novos projetos, developers e fundadores é fundamental para o desenvolvimento do ecossistema. Queremos manter uma colaboração próxima com a BBA. No evento PBA em Bali, em agosto, também vamos participar ativamente e promover parcerias.

Qual é o objetivo central deste conselho consultivo? Em resumo:

• Aproximar-nos ainda mais da comunidade;
• Cobrir diferentes “touchpoints” e grupos representativos do ecossistema;
• Ouvir melhor o ecossistema e compreender a dinâmica da comunidade;
• Melhorar a coordenação da comunicação externa e das nossas atividades no ecossistema.

O tesouro não é uma caixa multibanco: a lógica de utilização dos fundos do tesouro sob a perspetiva de um VC

Kristen: Excelente, e hoje temos dois membros do conselho consultivo na conversa: o Pakman e a PolkaWorld. Espero que juntos possamos divulgar a mensagem da HIC e impulsionar o crescimento do ecossistema.

Falando da perspetiva dos VCs, os investidores comuns e o público em geral valorizam muito a opinião dos VCs. Por isso, gostava de saber a tua opinião sobre a utilização dos fundos do tesouro OpenGov.

Muitas vezes vemos propostas a pedir fundos ao tesouro OpenGov, mas não são projetos de “interesse público”. A HIC já defendeu que o OpenGov devia funcionar como um VC, com mentalidade de VC — quando um projeto recebe fundos do tesouro, deve “retribuir” ao ecossistema de alguma forma.

Mas há equipas, especialmente startups, que argumentam: se um projeto consegue, com fundos do tesouro, atrair mais utilizadores para o ecossistema, isso já é uma retribuição positiva para o Polkadot.

O que achas? O tesouro deve funcionar como um VC e esperar “retorno”? Ou achas que subsídios incondicionais são melhores para o crescimento do ecossistema?

Mario: Obrigado pela pergunta. Concordo que, atualmente, há falta de capital no ecossistema e precisamos de apoiar mais projetos. Mas a questão é: de onde deve vir esse dinheiro?

Por um lado, temos o Gavin, a Parity e outras equipas core, focadas na infraestrutura. A Web3 Foundation foi criada para apoiar o desenvolvimento do ecossistema, com papéis bem definidos.

Este é o primeiro passo importante: a fundação apoia o ecossistema, mas não investe diretamente; o investimento deve ser feito por fundos como o nosso. Pelo que entendo, a Web3 Foundation investe no ecossistema através de fundos como o nosso — ou seja, fornece fundos a estes fundos, que depois os aplicam no mercado.

Porquê investir através de fundos e não diretamente? Por duas razões:

Primeiro, por questões regulatórias.

Deves lembrar-te da polémica com a SEC sobre “ser ou não um security” — isto é crucial. O Polkadot tem mantido contacto com a SEC para garantir o seu estatuto legal como “software” e não “security” — pois ser classificado como security teria consequências negativas. Esta é a razão principal.

Segundo, por profissionalismo e eficiência.

A fundação apoia vários fundos do ecossistema, externalizando a due diligence dos projetos. Cada fundo tem o seu foco:

• Signum foca-se mais em gaming;
• Cytale já está há anos no ecossistema;
• E nós (Harbor Industrial Capital).

Cada fundo avalia os projetos à sua maneira, podendo partilhar notas de due diligence e até co-investir. Ter vários intervenientes ativos na due diligence é benéfico para o ecossistema.

Este é o modelo atual: fundação + fundos do ecossistema.

Quanto a outros VCs, claro que gostaríamos de ver mais VCs tradicionais ou externos no Polkadot, como a Arrington Capital e outros nomes conhecidos. Mas, infelizmente, ainda não participam muito ativamente.

Agora, outra questão: qual deve ser o papel do tesouro?

Cada um terá a sua opinião, não vou aprofundar divergências, mas, no essencial, o tesouro serve para apoiar o desenvolvimento do ecossistema.

Isso levanta uma questão-chave: como distribuir os fundos? Por exemplo:

• Quanto alocar a marketing?
• Quanto a grants?

Os grants são legítimos, especialmente para “bens públicos” — infraestrutura, documentação, mecanismos de governação, etc. — que não têm retorno económico direto, mas são essenciais para o ecossistema.

Por exemplo, um evento presencial ou conferência, como o Consensus em Hong Kong, onde o Polkadot teve um stand — como medir o valor disso? Que “retorno” trouxe ao ecossistema? É difícil quantificar em dólares. Para este tipo de atividades, o apoio do tesouro é aceitável, podendo ser atribuído como bounty ou orçamento dedicado.

Mas se financiarmos entidades económicas (projetos com modelo de negócio e fins lucrativos), a situação muda. Segundo o básico da economia (Economics 101):

O objetivo de uma empresa é gerar lucro (a menos que seja sem fins lucrativos ou um projeto público).

Assim, seja um projeto apoiado por fundos ou pelo tesouro, se vier a lucrar, quem o apoiou deve receber uma parte dos lucros — é uma lógica simples.

Portanto, como disse antes:

• A fundação apoia projetos através de fundos do ecossistema;
• O tesouro financia bens públicos.

Quanto a o tesouro “investir diretamente” em projetos — isso volta a levantar riscos regulatórios. Por exemplo, a SEC pode dizer: “Isto é um investimento? Então é um security?”

Temos de evitar isso.

Outra questão: como pode o tesouro “investir” na prática?

Se houver uma proposta para investir 1 milhão de dólares num projeto, como distribuir esses fundos? Como gerir? Criar estrutura acionista? Garantir compliance? Tudo isto é complexo sem intermediários maduros.

O que fazer então?

Penso que deve haver um mecanismo intermediário, como um comité ou mecanismo de distribuição de fundos, para gerir a distribuição. Se o tesouro investir diretamente, arrisca-se a infringir regras regulatórias.

O problema não é “investir ou não”, mas como usar os fundos do tesouro de forma compliance, garantindo retorno para o tesouro. Isto é razoável e deve ser feito de forma legal, com due diligence e processos jurídicos adequados.

Portanto, ao pensar em como distribuir fundos do tesouro a projetos, estes pontos são cruciais.

Kristen: Tens uma visão clara e precisa sobre o uso dos fundos do tesouro, e concordo contigo: precisamos de distinguir bem o papel dos VCs e do tesouro, e perceber que o tesouro não serve só para financiar projetos, tem outras funções. Por isso, é importante tratar estes temas com precisão. Espero que mais pessoas participem nestas discussões e promovam avanços nesta área.

Gerar um smart contract com uma frase? Vara usa IA para reinventar a experiência de desenvolvimento Web3

Agora, vamos falar com o Luis. Temos visto a Vara promover o conceito de smart contracts com IA, e referiste que isto é um ponto de viragem para a indústria cripto. Podes explicar concretamente como IA e smart contracts se combinam?

Luis: Claro, acho que isto é importante não só para o ecossistema Vara, mas para todo o setor.

No início, trabalhávamos com developers para concretizar as suas ideias — por exemplo, criar um DEX, um marketplace ou uma aplicação de supply chain. No nosso site, oferecemos muitos templates de smart contracts, que os developers podem adaptar, alterando apenas parte do código, sem ter de começar do zero.

Mas agora fomos mais longe. Agora, mesmo sem saber nada, basta escrever uma frase como: “criar um smart contract com estrutura completa de supply chain, com estes passos, estes utilizadores e esta lógica de interação”. A IA usa o nosso template de supply chain e gera toda a lógica para o developer.

Acho que isto é muito importante, porque acelera imenso a produção de MVPs e projetos iniciais, permitindo construir aplicações na Vara muito mais rapidamente.

É uma ferramenta que promovemos ativamente em meetups e workshops, e o feedback dos developers tem sido muito positivo.

Hoje em dia, todos já se habituaram a usar prompts, seja no ChatGPT, Claude, Qwen ou outras ferramentas de IA para acelerar tarefas diárias. O mesmo se aplica ao desenvolvimento.

Pessoalmente, gosto deste método, mas não sou grande fã do byte-coding (programação visual em bytecode) em si. Byte-coding é bom para protótipos rápidos, mas para lógica complexa ou personalização avançada, precisas de uma base sólida de programação para saber como modificar e expandir o código.

Por isso, acho que a melhor abordagem é a combinação de “IA + base de programação”, juntamente com o suporte oficial de desenvolvimento que damos na Vara.

É a combinação mais eficaz que encontrámos até agora. Nos próximos meses, vamos ver se realmente acelera a produção de novos projetos — estou muito curioso.

Kristen: Sim, todos sabem que a IA depende muito de recursos computacionais, precisa de muita capacidade de processamento. Mas, como se sabe, o blockchain tem limitações naturais de computação. Como equilibram isso? Há requisitos especiais para a infraestrutura de base ao desenvolver smart contracts de IA?

Luis: É uma questão muito importante — como integrar IA em blockchain?

Atualmente, usamos modelos de IA existentes, que correm off-chain, não na blockchain. Já testámos outras abordagens, como o modelo ZKML (zero-knowledge machine learning), mas, para já, achamos que o mais prático é: a IA não corre diretamente na blockchain, mas integra-se com ela.

Sabemos que há blockchains feitas para IA on-chain, até com marketplaces de modelos de IA, mas esse não é o nosso foco na Vara. Preferimos que os developers treinem os seus modelos off-chain e, através das nossas ferramentas de integração, submetam os resultados à blockchain. Ou seja, a IA corre off-chain e os resultados são integrados na blockchain via ZKML.

Além disso, temos uma solução chamada Gear EXE, que permite aos developers construir IA em redes de computação centralizada. É barato, rápido e flexível. Mas, se quiseres correr modelos de IA totalmente on-chain na Vara, por agora é caro e pouco competitivo face a outras plataformas de IA.

Por isso, o nosso foco é ajudar os developers a usar IA para acelerar a incubação de ideias, independentemente de correr on-chain ou off-chain.

Kristen: Ou seja, a lógica computacional da IA é executada off-chain e os resultados são escritos na blockchain. Vês aplicações concretas para smart contracts de IA?

Luis: Sim, já oferecemos alguns templates que suportam este modelo de interação on-chain/off-chain. Por exemplo, podes treinar o teu modelo de IA (em qualquer linguagem que escolhas) e, com o nosso suporte a ZKML, gravar os resultados na Vara Network.

Até agora, este é um dos casos mais completos que implementámos. E é extensível — podes expandir os templates para criar qualquer funcionalidade que queiras.

Fornecemos estes templates para poupar tempo aos developers, não para que tenham de começar sempre do zero. Se tiveres mais competências técnicas, podes expandi-los e criar a tua própria aplicação — e teremos todo o gosto em ajudar nesse processo.

Kristen: Obrigada, Luis! Espero que os developers interessados em smart contracts de IA sigam o teu trabalho e o da Vara Network para saber mais.

Lançamento da mainnet da Kylix previsto para setembro — vão também candidatar-se a incentivos do tesouro?

Agora, vamos pedir ao PakMan para apresentar o plano de lançamento da mainnet da Kylix. Os membros da comunidade estão muito curiosos — quando vão lançar?

PakMan: Gostava de dizer que lançamos amanhã (risos), mas honestamente ainda não é tão rápido.

Antes de ser cofundador da Kylix, trabalhei vários anos em muitos projetos e ficava sempre frustrado com os atrasos nos TGEs (Token Generation Events). Não percebia porque era tão difícil lançar um projeto — porque tantos adiamentos?

Só quando criei o meu próprio projeto percebi — é mesmo muito complexo. Só aí percebi tudo.

Por exemplo, tens de fazer auditorias, UI/UX design. Sempre disse: mais vale lançar mais tarde, mas com qualidade, do que apressar e lançar um produto cheio de problemas.

Queremos muito lançar o quanto antes. A testnet já está online, o UI/UX está a ser melhorado, a equipa de front-end continua a desenvolver. É um processo que envolve muita colaboração entre equipas, cada etapa exige coordenação e comunicação.

Se tiver de dar uma previsão, não quero criar falsas expectativas, mas o mais realista é: entre o final de agosto e setembro, talvez lancemos oficialmente. Pode ser mais cedo, mas ainda estamos a testar e auditar, é preciso garantir que tudo está perfeito.

Só tens uma oportunidade de lançamento — se falhares, pode ser o maior fracasso do projeto. Por isso, temos de avançar com cautela para garantir um lançamento de sucesso. Por isso, setembro parece-me ideal.

Kristen: Sei que para projetos DeFi, a liquidez é fundamental. Estão a pensar candidatar-se a incentivos de liquidez do tesouro?

PakMan: É uma ótima questão, e é algo que nos perguntam muito. Se olhares para a tendência no ecossistema Polkadot — Bifrost, Hydration, Acala, Stellaswap — todos já pediram apoio de liquidez ao tesouro Polkadot.

É algo que podemos considerar. Não digo que não, mas preferimos construir um modelo orientado pela utilidade real, não depender totalmente de incentivos. Depois do lançamento, ao explorar o futuro, pode ser um caminho a considerar seriamente.

Afinal, se estás a construir no ecossistema, deves ter direito ao apoio do ecossistema.

Por isso, para já, não é um sim nem um não a 100% — é um “talvez”. Vamos ver como as coisas evoluem e, numa certa fase, podemos seguir esse caminho.